Lançado em 30 de março de 2023 em Maringá, numa realização do Sistema Faep/Senar-PR e da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, o Programa de Capacitação em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) foi finalizado na noite de quinta-feira (6/6) durante evento no Hotel Metrópole em Maringá, com a entrega dos certificados aos 32 participantes, dentre os quais profissionais técnicos da cooperativa, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), da cooperativa de profissionais de agronomia Unicampo e instrutores do Senar-PR. A Associação Rede ILPF, a Embrapa e o IDR-Paraná apoiaram a iniciativa.
Durante a solenidade, a diretora técnica do Senar/PR, Débora Grimm fez uma retrospectiva do programa, lembrando as 16 reuniões organizadas entre março de 2023 e abril de 2024, que totalizaram 141 horas. “Fazemos uma menção muito especial aos profissionais que agora estão concluindo o curso, com um agradecimento aos parceiros e aos produtores rurais que abriram suas propriedades para que os participantes pudessem elaborar seus projetos”, disse, ressaltando a importância da realização para a qualificação dos participantes, “que já são profissionais diferenciados”.
“O curso vai ser um diferencial competitivo muito grande para o currículo de cada um”, pontuou Renato Watanabe, presidente do conselho gestor da Associação Rede ILPF e gerente executivo técnico da Cocamar, ao citar que o Brasil possui 604 universidades que oferecem curso de agronomia, mas somente 3 que incluem a ILPF em sua grade. Ele citou que o país conta atualmente com 17 milhões de hectares com algum sistema de integração, mas se quiser reformar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas, precisará de pelo menos 4 mil profissionais especializados em ILPF, um para cada mil hectares. “E se trouxermos ao menos 30 milhões de hectares para o programa, poderemos ampliar o rebanho bovino das atuais cerca de 200 milhões para 300 milhões de cabeças e acrescentar mais 100 milhões de toneladas à safra de grãos”. Para ele, “a ILPF é uma prática transformadora que coloca o país muito à frente dos outros, por cuidar da saúde do solo e ser um modelo sustentável.”
Já José Antônio Borghi, presidente do Sindicato Rural de Maringá, destacou que a ILPF promove a diversificação de atividades e o aumento da renda, quesitos essenciais para regiões como o noroeste paranaense, com sua pecuária deficitária. “A integração é uma ferramenta que cai como uma luva para essa região”.
“Melhorar o noroeste do Paraná e ajudar outras regiões do país a desenvolver a integração e, com isso, gerarem mais riquezas”, o principal objetivo citado por Leandro Cezar Teixeira, superintendente de relação com o cooperado da Cocamar, para o curso de capacitação. Ele agradeceu o Sistema Faep/Senar-PR pela parceria, bem como as demais instituições, e afirmou que quando um produtor implementa a ILPF em sua propriedade, não tem volta. “Há estabilidade produtiva, a renda é outra, a soja traz resultados para a pecuária, sem falar da valorização da propriedade”, comentou, lembrando, entretanto, tratar-se de um sistema que exige acompanhamento técnico e não aceita improvisos. Não raro, segundo ele, a integração enfrenta a resistência de pecuaristas mais tradicionais. “Com o curso, os profissionais certamente terão uma base maior para sensibilizar esses produtores”.
Extensionista com exatos 40 anos de atividade, o diretor-presidente do IDR-Paraná, Richard Golba, ressaltou “a importância da integração que foi feita também entre as instituições para viabilizar o curso”, enquanto Carina Ruffino, chefe de transferência de tecnologias da Embrapa Soja, valorizou o pioneirismo do Brasil em inovações como a ILPF e disse que “o melhor investimento de um país é investir na educação”.
Além das aulas, o programa constou também de visitas a várias propriedades rurais e instituições, sendo a primeira realização do gênero o estado, tendo surgido de um pedido pessoal do presidente do Sistema Faep/Senar-PR, Ágide Meneguette, interessado em contribuir para o aprimoramento técnico visando a expansão da ILPF, conforme ele citou quando do lançamento.
De acordo com o gerente técnico de ILPF da cooperativa, Emerson Nunes, o curso abordou uma série de temas específicos para o nivelamento técnico dos profissionais, entre eles culturas, pastagens, fertilidade do solo, uso da água, gestão da propriedade, uso de ferramentas digitais e a parte florestal, que compuseram módulos. “Tudo foi pensado para uso em sistemas integrados e um ponto importante a destacar é que entre os participantes estavam engenheiros agrônomos, médicos-veterinários, engenheiros florestais e zootecnistas, ou seja, houve a junção de uma equipe técnica para que, dentro de um sistema integrado, todos eles possam trabalhar também de forma integrada”.
Nunes explica que é comum acontecer em uma propriedade onde tenha sido adotada a integração, apenas o engenheiro agrônomo ou o médico-veterinário estarem capacitados. “Para o sucesso da integração em uma propriedade, é preciso que essas especialidades trabalhem em conjunto, lembrando que um programa de ILPF não é de curto prazo e, sim, duradouro”.
A capacitação foi importante ainda, segundo Nunes, porque em vários módulos houve aulas práticas, como nas visitas à Embrapa Agropecuária Oeste em Dourados (MS) e na Embrapa Soja, em Londrina (PR), além de dias de campo em Ipameri (GO), Iporã e Guairaçá, no Paraná, essas duas últimas em unidades de difusão de tecnologias (UDTs) da Cocamar. Na de Guairaçá, os participantes receberam ensinamentos sobre a regulagem de máquinas como plantadeiras e colhedeiras. E, em visita a uma instituição de ensino, tiveram aulas de inseminação artificial. “Enfim, foi um curso bastante completo que a gente pode até chamar de uma especialização”, finalizou.
Projetos devem fomentar ILPF nas regiões
O grupo participou também da elaboração de 19 projetos a partir da escolha de algumas propriedades situadas nas regiões da Cocamar que já adotam a integração, apresentados no dia 2 de abril para uma banca. Na avaliação geral, os resultados foram considerados positivos e há a expectativa, inclusive, de que venham a ajudar a fomentar a ILPF nas regiões, pois as propriedades devem se tornar áreas modelo.
Três deles receberam premiação. Na primeira colocação ficou o da Agropecuária Zafanelli, de Alto Paraíso, na região de Umuarama, elaborado pelos técnicos Avner Paes Gomes, Luiz Henrique da Silva Lima e Rodrigo César Rossi, do IDR/PR. Em segundo lugar, o projeto da Fazenda Nata, de Centenário do Sul, apresentado pelo engenheiro agrônomo José Matheus Rodrigues e a médica-veterinária Telma Veruska Forza, da Cocamar; e, em terceiro, o da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Terra Rica, assinado pelo engenheiro agrônomo Jorge Luiz Boregio Vecchi e a médica-veterinária Isabela Benjamin Fernandes Melo, da Cocamar.
Premiação à parte, profissionais falaram de sua satisfação por terem participado do curso. As médicas-veterinárias Vera Maria Luizari Ponçano Silva, que trabalha na unidade da Cocamar em Presidente Prudente, e Márcia Kuster de Paula, da unidade da cooperativa em Astorga, afirmaram que passam a ter uma visão mais ampla da propriedade. “Com isso, poderemos ser mais assertivos”, mencionou Vera, enquanto Márcia afirmou ter sido “um aprendizado muito grande com o qual podemos melhorar ainda mais as propriedades já atendidas”.
Integração começou na década de 1990 na região da Cocamar
No Paraná, o sistema de integração começou a ser praticado em meados da década de 1990, quando a Cocamar, por meio de seu presidente Luiz Lourenço, atendendo pedidos de alguns agricultores, saiu em busca de alternativas para viabilizar o plantio de soja no arenito caiuá, no noroeste paranaense. À época, a Embrapa já havia desenvolvido tecnologias para implementar a cultura de grãos no cerrado, reconhecido pelo seu solo pobre, de maneira que, resguardadas as proporções e apesar das diferenças, o arenito começou a ser visto como uma oportunidade.
À época, a prefeitura de Umuarama estava incentivando o Programa de Arrendamento de Terras (Pater) para a reforma de pastagens, inspirado em uma experiência do Triângulo Mineiro, atraindo produtores de grãos de vários municípios do estado. A Cocamar enxergou aí a chance de emplacar a integração e, para isso, com o objetivo de apoiar os produtores, passou a prestar assistência técnica e instalou estruturas operacionais para o recebimento de grãos em pontos estratégicos.
De acordo com a Cocamar, a região do arenito caiuá conta com cerca de 2 milhões de hectares de pastagens, 70% das quais se encontram degradadas. Nas regiões atendidas pela cooperativa, a integração compreende aproximadamente 200 mil hectares em diferentes formatos.