Próxima safra será rentável para produtor de soja que tiver uma boa colheita

18/07/2024

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O momento atual da safra americana, que está em desenvolvimento tanto para a soja quanto para o milho, cria muitas expectativas, segundo comenta o superintendente de Negócios da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Anderson Bertolleti.

Nas estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção de soja poderá chegar a 120 milhões de toneladas na soja e, a de milho, 380 milhões, safras consideradas muito boas. “Mas, ainda tem tudo por acontecer, as lavouras estão em formação e o mercado acompanha o desenvolvimento da safra americana”, avalia.

Contudo, mesmo diante de um cenário de grandes incertezas, que inclui um desequilíbrio causado pela produção global maior que a demanda, o produtor das regiões atendidas pela Cocamar ainda vislumbra rentabilidade desde, é claro, que tenha uma boa colheita.

Esses e outros assuntos estão na entrevista com Bertolleti.

O fator dólar tem ajudado nos preços da soja por aqui?

O fator dólar vem garantindo um suporte aos preços. As altas recentes que tivemos no câmbio, chegando a R 5,70 na paridade com o real, contribuíram para fortalecer os preços, que depois recuaram um pouco

A safra norte-americana vem se desenvolvendo bem?

Sim, o desenvolvimento vai muito bem. Para se ter uma ideia, as condições de lavouras de milho estão 11% melhores que neste mesmo período no ano passado, enquanto as de soja estão 13% melhores. Em resumo, estamos falando de uma safra norte-americana com 60% de condições boas e excelentes para o milho, e ao redor 68% para a soja. Por enquanto, a safra americana tende a ser melhor que a anterior.

O mundo está produzindo mais soja do que a demanda?

Nos últimos anos, mesmo com os problemas climáticos ocorridos em alguns importantes países produtores, caso do Brasil e Argentina, a produção mundial de soja tem sido superior ao consumo e esse é um fator que acaba limitando os aumentos de preços em Chicago. Só nos últimos cinco anos o Brasil expandiu sua área de soja em 10 milhões de hectares, para uma produção de 40 milhões de toneladas, ao passo que a demanda internacional vem crescendo entre 3 e 5% ao ano, com a China se mantendo como o principal importador de soja. Então, a gente acaba ficando muito dependente da China e quando olha os números mais recentes de crescimento daquele país, inferiores a 5% no primeiro trimestre, percebe haver um descompasso. O consumo tem trabalhado numa linha muito regular, com poucas movimentações de crescimento, enquanto a oferta vem sendo maior, o que aumenta os estoques e pressiona os preços.

Mesmo com todo esse cenário, a expectativa é de rentabilidade para os produtores brasileiros, na safra 2024/25?

Os produtores, na grande maioria, já conhecem os seus custos de produção, quando, há meses, adquiriram os insumos. A Cocamar, por exemplo, lançou em maio o seu plano de comercialização de insumos, mostrando que os custos, de uma forma geral, ficaram 20% mais baratos em comparação ao ano anterior. Mesmo com o cenário e os atuais preços não serem dos mais atrativos, há perspectivas de rentabilidade para o produtor, o que vai depender, é claro, do que vai acontecer com o clima. O ponto chave é o produtor olhar para o investimento na sua lavoura, nos seus tratos culturais. Está na mão dele investir em tecnologias para ter uma produtividade melhor e sair desse aspecto do preço, porque não temos controle sobre ele, o mercado é que vai regular e ditar. Agora, buscar essas tecnologias e produzir mais, está na mão do produtor. Se ele colher bem, a expectativa é de um resultado positivo.

Quais são os pontos de atenção para o milho e a soja?

No milho, o principal ponto é que o mercado de exportação começa a balizar os preços, então é fundamental o dólar continuar num patamar razoável para permitir uma liquidação de exportação melhor, e para que o país consiga escoar esse milho. Apesar de termos problemas aqui na região com o milho de inverno, quando se olha para outros estados, como Mato Grosso e Goiás, o cenário é diferente, com produtividades melhores. Isso faz com que a produção brasileira tenha uma quebra sim, mas nada representativa. O problema está mais concentrado no Sul e Sudeste. Tanto que a Conab, no relatório da semana passada, trouxe uma safra brasileira maior do que a que estava sendo desenhada, ao redor de 117 milhões, ou seja, 2 milhões de toneladas a mais. Então, é preciso ficar atento ao tamanho da safra do Brasil, ao câmbio e, claro, ao desenvolvimento da safra dos Estados Unidos. Qualquer problema lá, como a safra está em andamento, pode contribuir para o cenário de preços aqui. Na soja, é preciso olhar também para esse movimento do dólar, há uma tendência agora na entressafra de os preços se fortalecerem, o que pode gerar oportunidades mesmo com Chicago apresentando patamares pouco atrativos, pois o bushel a US$ 10,90 é um dos mais baixos em quatro anos. Em contrapartida, o câmbio está se mantendo no patamar de R$ 5,40 e o mercado todo está voltado para a safra americana. Por ora, como dissemos, os indicativos são de uma boa safra por lá, mas é preciso esperar para saber se isto vai se confirmar. Em breve, teremos outro ponto importante a observar: qual será efetivamente, na próxima safra, o tamanho da área plantada no Brasil e na América do Sul

Parcelar as vendas, aproveitando as oportunidades, é sempre recomendável?

Parcelar as vendas é uma receita, uma orientação, que a gente sempre coloca: parcelar para fazer uma boa média. É muito difícil saber para onde vão caminhar as inúmeras variáveis do mercado. Nunca sabemos se será possível acertar o olho da mosca, como se fala. A gente sempre orienta: na hora da contratação dos insumos, trave os custos e depois aproveite esses movimentos de mercado como a gente viu recentemente, com o câmbio puxando os preços para cima. Se o produtor mantiver essa linha, ele terá uma receita positiva, uma rentabilidade.

Ficar sem seguro é arriscar muito?

Depois do que a gente viveu nos últimos anos, vendo o quanto o clima tem sido desafiador, o seguro é um item importantíssimo que o produtor precisa considerar na hora de fazer a sua planilha dos custos. O seguro é indispensável para que ele tenha um pouco mais de tranquilidade. As transições climáticas provocaram uma redução de mais de 40% de produtividade na última safra de verão na média das regiões atendidas pela Cocamar. Imagina os produtores não terem seguro diante de um problema desse tamanho. Isso é capaz de abalar a receita e comprometer os investimentos. A Cocamar conta com a sua corretora que pode dar total suporte aos produtores nesse sentido.