A agricultura tem evoluído muito em genética e em outras tecnologias de produção, como a proteção de plantas. Entretanto, ainda se vê uma grande dispersão de produtividade por falta de um manejo adequado do solo.
Plantio direto - Tal incongruência é mencionada pelo gerente executivo técnico da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Renato Watanabe, chamando atenção para o fato de que o norte do Paraná – mais precisamente o município de Rolândia, a 78km de Maringá – é o berço do plantio direto no país.
Resiliência - “O plantio direto avançou muito no Brasil, foram mais de 35 milhões de hectares na última safra, mas há pontos a serem rediscutidos, a qualidade merece mais atenção, é preciso atentar para a correção de solo e a palhada no sistema, para que seja possível fazer uma agricultura mais resiliente”, afirma Watanabe, que também preside a diretoria executiva da Rede Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Enfrentar dificuldades - A resiliência é necessária para que as lavouras possam enfrentar anos de dificuldades climáticas, como falta de chuvas e altas temperaturas, sofrendo o menor dano possível. E, em anos de precipitações normais, que o produtor consiga explorar o máximo do potencial produtivo que a genética moderna pode oferecer.
Tecnologias e manejo de solo - De acordo com o gerente executivo, o fator resiliência é algo comum entre os que conseguem, todos os anos, produzir bem, devido aos investimentos que fazem em tecnologias e, principalmente, nos cuidados com o manejo do solo.
Avaliação - Para conhecer as causas da dispersão de produtividade, Cocamar e Embrapa Soja realizaram há alguns anos uma avaliação em 24 propriedades rurais em vários municípios do norte e noroeste do Paraná. Nesse trabalho, foram analisadas a qualidade química (nutrientes) e física (nível de compactação).
Investimento em adubação - A conclusão é que, nos diferentes tipos de solo das regiões atendidas pela cooperativa no estado, com altitudes médias de 550m, cada qual apresenta uma forma de trabalhar, geralmente com níveis de macronutrientes considerados bons ou ótimos, o que denota investimento em adubação.
Correção deficiente - Contudo, em 80% das áreas analisadas, observou-se alguma deficiência em correção do solo, seja em pH e/ou na capacidade do solo em reter os nutrientes para que sejam disponibilizados às plantas. Constatou-se, também, um percentual de alumínio, o que é normal em solos de clima tropical, e precisa ser eliminado.
Sinergia - “Coloca-se muito investimento em fertilizantes, o que está correto, mas sem permitir que esse insumo seja mais eficiente. Como buscar essa eficiência? Promovendo a devida correção do solo”, orienta Watanabe, lembrando que uma tonelada de calcário custa ao redor de R$ 200, valor acessível, enquanto a tonelada de fertilizantes sai por volta de R$ 3,5 mil. “Um não é concorrente do outro, são sinérgicos”.
Análise de solo - “Se a gente está colocando muito fertilizante e deixando de corrigir, não está explorando o máximo de retorno econômico que o fertilizante pode dar”. E isso começa, segundo ele, com uma boa análise de solo.
Áreas compactadas - Watanabe cita também a compactação. No trabalho desenvolvido com a Embrapa Soja, verificou-se que muitos produtores estão com suas áreas compactadas e a água da chuva tem dificuldades para infiltrar. Por isso, se o solo não estiver bem protegido com uma cobertura de palhada, essa água vai ser desperdiçada rapidamente.
Infiltração de água - “O manejo conservacionista não dispensa a palhada”, frisa, lembrando que a avaliação nas propriedades compreendeu, também, verificar a taxa de infiltração de água no solo. No geral, considerando os solos de regiões próximas a Maringá, essa taxa foi de apenas 13ml (quando há sucessão soja e milho de segunda safra por um longo período, o equivalente a 13 litros por metro quadrado).
Erosão - Significa que se houver uma chuva volumosa em poucas horas – típica dos tempos de La Niña – só 13mm vão ser infiltrados e o restante da água irá escorrer, levando embora uma parte da camada mais fértil do solo. Com a erosão laminar a cada chuva mais intensa, o produtor está, aos poucos, perdendo o seu maior bem.
Braquiária - Outra constatação é que a maioria dos produtores se dedica ao sistema de produção soja-milho há mais de 15 anos em solo compactado, o que pode ser corrigido de duas maneiras: a mecânica – que vai custar caro por exigir equipamentos de grande potência – ou lançando mão de uma “ferramenta” biológica eficiente e relativamente barata, a braquiária.
Benefícios - “A braquiária se encaixa muito bem aqui na região”, explica Watanabe, ao citar que suas raízes profundas rompem a compactação, facilitam a infiltração hídrica, sendo que uma boa cobertura de palha vai evitar que a água da chuva evapore logo, além de reduzir a temperatura do solo.
Cobertura - Estudos apontam que para cada grau a mais na temperatura do solo, pode haver uma redução entre 5 a 7% do tamanho do sistema radicular. Como, durante os meses quentes, a incidência solar tende a promover um aquecimento de solos descobertos para até 65ºC, o mesmo não se observa onde há uma cobertura de palhada, cuja temperatura tende a ficar quase à metade, ao redor de 35ºC. Para que a planta consiga suportar essa situação adversa, começa a desencadear processos de controle de temperatura que faz com que perca energia, prejudicando o resultado lá na frente, na produtividade.
Seguir em frente - “O arroz com feijão bem-feito é que, em resumo, vai proporcionar a necessária resiliência da agricultura, assegurando estabilidade da produção”, comenta Watanabe. Embora se tenha anos difíceis pelo caminho, a produtividade vai se manter num patamar que ao menos permita fazer frente aos custos de produção, sem comprometer a capacidade de investimento na propriedade.
Deixar um solo melhor - Mas deixa claro: essa é uma visão que o produtor tem que ter de médio e longo prazo. Nada de imediatismo. E precisa ser permanente, completando: “O produtor precisa fazer a sua parte e ter em mente que deverá deixar para o seu sucessor um solo com qualidade igual ou superior ao que recebeu de seus pais”.